segunda-feira, 19 de abril de 2010

O julgamento

_ Quanto a acusação de abandono a ré se declara?
_ Culpada, meretíssimo.
_ Culpada? Mesmo?
_ Mesmo. Sou culpada de total e absurdo abandono. Só não sei ainda o que eu abandonei.
_ Como a senhora se declara culpada de abandonar algo que não sabe o que é?
_ É que, assim... se eu assumisse ser culpada do abandono que eu acredito ter cometido seria no mínimo ridículo ter me colocado à frente do juri para ser julgada!
_ Explique melhor. O que a senhora acredita ter abandonado?
_ Se é que se pode considerar a minha opinião como certa, eu afirmo que abandonei a mim mesma.
_ E como isso pode ser possível? Tem certeza de que foi a si mesma que abandonou?
_ Sim senhor.
Sabe, fui acusada diversas vezes de abandono e nunca dei atenção para nenhuma delas. Já fui acusada de abandonar meus sentimentos, meus amigos, meus amores, minha família, meu blog, meu diário, minhas roupas, minha comida, minhas aulas, minha faculdade. Me disseram que eu estava desistindo de tudo sem perceber, que eu era irresponsável e imatura ou, simplesmente, que eu estava errada.
Foi aí que eu percebi que eu nunca bandonei nenhuma dessas coisas, que na verdade eu tentava cuidar ao máximo de cada uma delas sem deixar que os meus problemas (mesmo que a causa deles fossem as coisas que me acusam de ter abandonado) interferissem em nada.
Amei intensamente cada uma das coisas de que fui acusada de abandonar, e ainda amo, e percebi que eu me abandonava. Não quis escrever ou ler nada por não me acreditar capaz, não quis amar por não me acreditar capaz, não senti por não me acreditar capaz... abandonei minhas vontades e medos por ter sempre o errado como o fim mais certo e no fim das contas... ERREI!
_ Nesse caso esse jurí é obrigado a declará-la inocente de todas às acusações.
_ Como? E quanto a acusação de me abandonar?
_ Quanto a essa acusação o juri não pode declara nada. A única pessoa que pode culpar e punir a senhora por esse tipo de abandono é a sua conciência. Se encontre e saberá se merece ou não uma punição.
Esse julgamento está encerrado!

E aos dois toques do martelo ela acordou...

Um comentário:

  1. Bom ler alguma coisa tua de novo Nadia.

    Façamos um trato: você continua escrevendo e eu... eu te absorvo também.

    Beijão e parabéns pelo texto!

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